REVISTA FACTO
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Mai-Ago 2023 • ANO XVII • ISSN 2623-1177
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O futuro já é realidade na química fina brasileira
//Matéria Política

O futuro já é realidade na química fina brasileira

Investir em sustentabilidade no mundo atual não é apenas uma questão de relevância, mas sim de sobrevivência. Prova disso é que, além das mudanças de práticas nas empresas e nos governos, os valores destinados a agendas sustentáveis no mundo inteiro ultrapassam a marca do trilhão de dólares, destacando o tripé ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês). Essa é a resposta aos desafios climáticos, socioeconômicos e de saúde (vide a pandemia da covid-19) que ameaçam o futuro da humanidade e do planeta. 

No Brasil, que está implementando uma nova política industrial com foco na economia verde, outra boa notícia é que a temática ESG já se tornou realidade na indústria de química fina. Isso contribui, inclusive, para a internacionalização das empresas, visto que compromissos ESG são essenciais para corporações que buscam expandir-se e ganhar novos mercados, diante de uma sociedade cada vez mais exigente. Foi o que se evidenciou no webinar ABIFINA “Práticas ESG na química fina: impulsionando a sustentabilidade e a inovação”, realizado no dia 07 de agosto.

“O segmento da biodiversidade sempre foi um dos pilares da nossa instituição. É tudo muito recente quando se fala de ESG, mas a ABIFINA já tem um papel tradicional nesse campo, em consonância com os nossos princípios ambientais, de governança e os marcos sociais”, afirmou Antônio Carlos Bezerra, presidente-executivo da ABIFINA, destacando a participação nas conferências Eco-92 e Rio+20; na construção do marco legal de acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado; e em fóruns temáticos do Governo Federal e do Senado, além do apoio ao projeto do portal Indústria Verde, da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Nova política industrial

Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, no dia 25 de maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, destacam a importância de recuperar o setor industrial brasileiro, que teve reduzida sua participação no PIB nacional. Como consequência, o Brasil caiu, nas últimas décadas, da 25ª para o redor da 50ª posição no ranking dos países em termos de complexidade da economia, com perdas de emprego e renda.

Diante disso, Lula e Alckmin ressaltam a necessidade de promover uma política industrial baseada nos setores em que o Brasil já possui know-how, nos que podem gerar maior valor adicionado e onde o País tem mais capacidade de ser competitivo.

Nesse contexto, a química fina se destaca ao perpassar diversos campos estratégicos da política industrial, como o complexo da saúde, no qual a importância da cadeia produtiva nacional se tornou ainda maior com a escassez de insumos gerada pela pandemia; a agroindústria, setor de alta competitividade e com imenso potencial; e a própria economia verde, que se sobressai em um país rico em biodiversidade e energia limpa como o Brasil.

No webinar, a nova Política de Desenvolvimento Industrial foi abordada em mais detalhes. Cleila Guimarães Pimenta Bosio, diretora de Bioindústrias e Insumos Estratégicos da Saúde, da Secretaria de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústrias do MDIC, apontou o papel central do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), reestruturado pelo Decreto nº 11.482/2023, na governança do processo.

Constituído por um fórum de debate político, outro para discussões técnicas e grupos de trabalho temáticos, reunindo sociedade civil e governo, o CNDI já possui orientações para as novas ações da política industrial, por meio da Resolução CNDI nº 01/2023. Entre os princípios da política, estão a inclusão socioeconômica; o desenvolvimento produtivo/tecnológico e a inovação; o incremento da produtividade e da competitividade; a redução das desigualdades regionais; a sustentabilidade; e a inserção internacional qualificada.

Missões para o desenvolvimento

A nova política está estruturada em missões, que são problemas a serem resolvidos. Para isso, o Governo fará uso estratégico de instrumentos como o poder de compra do Estado, subvenções econômicas, investimentos, qualificação do capital humano e política regulatória, entre outros. Os próximos meses serão voltados à discussão de atividades e metas, incluindo encontros com representantes da sociedade civil, para aprovar a proposta de política até o início de dezembro no CNDI e apresentá-la à Presidência da República.

As missões estão voltadas para a promoção dos seguintes objetivos: cadeias agroindustriais sustentáveis; Complexo Econômico-Industrial da Saúde (CEIS) resiliente para robustecer o Sistema Único de Saúde (SUS) e ampliar o acesso à saúde; infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis; transformação digital da indústria para ampliar a produtividade; bioeconomia, descarbonização e transição energética; e tecnologias de interesse para a soberania e a defesa nacionais.

Na missão relativa ao complexo da saúde, os objetivos centrais envolvem o fortalecimento da indústria nacional para reduzir a dependência externa e o reforço nas ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação no setor, bem como o estímulo às cadeias produtivas que realizam uso sustentável da biodiversidade.

Nesse sentido, Cleila Pimenta informou que o Governo Federal está trabalhando em propostas como o uso de selos verdes nas compras públicas sustentáveis, a criação de um observatório da bioindústria, a ampliação das exportações de insumos de saúde para o sistema das Nações Unidas (ONU) e a definição de padrões e metodologias analíticas de plantas medicinais e fitoterápicos.

Cleila Pimenta

“Estamos numa conjuntura geopolítica tão complexa, de pós-pandemia, mas apesar de tudo isso vejo muitas oportunidades, principalmente para a indústria da química fina”, afirmou Pimenta, que acrescentou: “Praticamente todas as missões têm relação com a cadeia de química fina porque a química está em tudo”.

De acordo com Cleila Pimenta, os aspectos ESG já estão amplamente presentes na indústria de química fina brasileira, embora existam questões que podem ser aprimoradas, como o aumento na presença de lideranças femininas. Além disso, a representante do MDIC pontuou que as ações já realizadas pela indústria nessa temática devem ser divulgadas, pois constituem um diferencial competitivo num mundo que valoriza cada vez mais essa agenda.

“É preciso mostrar os benefícios existentes ao aplicar políticas de ESG. Esse é um grande esforço que as indústrias fazem e, portanto, merece ser reconhecido”, destacou Pimenta.

Sociedades sustentáveis

Ao observar o cenário global, os esforços seguem na mesma direção, com uma multiplicidade de ações e investimentos para alcançar um objetivo ambicioso: transformar as economias e as sociedades com foco na sustentabilidade, conforme abordado por Carlos Mussi, diretor da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) no Brasil.

Nos últimos anos, ainda mais no pós-pandemia, as estratégias nacionais de desenvolvimento aprofundaram a aderência à temática ESG. Nesse contexto, os números são significativos: nos Estados Unidos, por exemplo, as políticas Inflation Reduction Act, com 369 bilhões de dólares, e Infrastructure Investment and Jobs Act, com 1,2 trilhão de dólares, possuem ações destacadas em quase todos os setores ambientalmente relevantes.

Por sua vez, na União Europeia, foi aprovado o Nova Geração UE, que é um pacote de recuperação de 806,9 bilhões de euros destinado a promover a sustentabilidade na agricultura, financiar energias renováveis e apoiar a venda de veículos elétricos. Já a China anunciou que alcançará a neutralidade de carbono até 2060.

Em países como o Canadá e a França, a sustentabilidade também está fortemente vinculada à governança, já que financiamentos emergenciais e resgates a empresas estão condicionados a compromissos ambientais. Reunindo os pilares da temática ESG, o Paquistão criou o Programa Tsunami de 10 Bilhões de Árvores, que está empregando trabalhadores que perderam seus empregos durante a pandemia para plantar árvores.

“Estamos nessa corrida para a sustentabilidade do mundo, pois os modelos que temos hoje são insustentáveis”, afirmou Mussi. Nesse contexto, o representante da CEPAL ressaltou o potencial da política climática como indutora do crescimento, o que envolve aspectos como eficiência produtiva, inclusão social e governança ambiental.

“Insisto muito na palavra governança, pois não é uma questão só de limitar a utilização ou proteger os recursos naturais. Podemos ter esses componentes, mas dentro de um aspecto de governança. Ou seja, precisamos usar tais recursos, temos que ser capazes de gerenciá-los e saber quem toma as decisões sobre eles”, pontuou Mussi.

Esse é mais um desafio que se soma à “cascata de crises” da atualidade, como definiu o representante da CEPAL. Em busca de soluções para o cenário atual, ele defendeu o modelo do Big Push (ou Grande Impulso) para a Sustentabilidade, agenda que prevê a coordenação de políticas públicas e privadas para impulsionar investimentos que produzam um novo ciclo de crescimento econômico sustentável.

Inovação e riscos

Dentro desse conceito, Mussi destacou o papel central da inovação para gerar capacidades tecnológicas e produtivas com vistas ao desenvolvimento sustentável. No entanto, é preciso considerar os riscos e benefícios do processo, que devem ser compartilhados entre agentes públicos e privados.

Tendências de esverdeamento das exportações de manufaturas mundiais e do Brasil (1990-2018)

Grandes áreas tecnológicas verdes no Brasil

No webinar, Mussi também abordou o relatório da CEPAL e da CNI, cujo objetivo é apresentar o cenário da ecoinovação no mundo e, a partir daí, analisar o estágio atual do Brasil, bem como indicar desafios e oportunidades para a indústria nacional. O documento aponta o boom das patentes verdes, que cresceram mais de 20 vezes nas últimas décadas, configurando uma espécie de “esverdeamento” do desenvolvimento tecnológico, com liderança da China.

Já no Brasil, segundo levantamento da CEPAL e da CNI, no período de 2015 a 2018, 31% das patentes verdes eram de energias alternativas, seguidas por gestão de resíduos (26%) e agricultura e silvicultura (16%). Para Mussi, a química fina tem papel fundamental para o desenvolvimento nessas áreas.

A CEPAL também está trabalhando com o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em projeto na área de patentes verdes, que envolve a identificação de necessidades e soluções tecnológicas em áreas específicas no âmbito internacional para promover encontros entre ofertantes e demandantes de tecnologia.

Em meio aos desafios e oportunidades do mundo atual, o representante da CEPAL fez um alerta:

Carlos Mussi

“O secretário geral da ONU disse que o mundo está em ebulição. Os países estão concorrendo entre si para ter a capacidade tecnológica de viver nesse novo cenário de mudanças climáticas”. Mussi concluiu com um olhar para o futuro: “Precisamos encontrar um caminho para o crescimento da economia, para que nossos filhos tenham oportunidades de emprego e renda como nós temos”.

ESG na química fina

Embora o cenário à frente seja desafiador, os cases da indústria de química fina brasileira indicam que a superação é possível. Diversos exemplos de boas práticas foram consolidados no relatório ESG na Química Fina, lançado este ano pela ABIFINA. “A palavra-chave nessa discussão é interdependência. O desenvolvimento dos aspectos ambientais, sociais e de governança, entre agentes públicos e privados, nos âmbitos interno e externo ao País e às empresas: tudo está interligado. Isso faz parte de um aprendizado, que vai continuar movendo as empresas para avançar cada vez mais nessa temática”, afirmou Fernanda Costa, especialista em Comércio Exterior e Cadeia Química da ABIFINA, que foi a moderadora do evento.

Agricultura

Na Ourofino Agrociência, que atua com defensivos agrícolas, foram utilizados, entre 2022 e 2023, mais de 1 milhão de embalagens recicladas (70% do total), o que evitou a emissão de 930,6 toneladas de CO2; a empresa reutilizou 83% da água gerada na descontaminação das plantas, economizando 680 mil litros; e reduziu em 10,5% a emissão de CO2 na logística dos produtos. Cabe destacar ainda que a empresa possui, junto a instituições financeiras, linhas de crédito de R$ 250 milhões vinculadas a ações socioambientais em 2023.

No campo social, a empresa alcançou, em 2022/2023, os seguintes resultados: 13 ações sociais e 13 projetos aportados, com investimento de R$ 1,75 milhão; crescimento de 39% de mulheres na liderança; e contratação de 29 pessoas com deficiência; entre outros.

Já em relação à governança, a empresa criou um Comitê de Ética e Compliance, além de contar com auditoria externa desde 2010. A Ourofino Agrociência também possui certificação Great Place to Work (GPTW).

Luciana Lourenço

“Através de indicadores, entendemos os nossos desafios, identificamos as grandes oportunidades e visamos ter impacto positivo na sociedade e no ambiente em que atuamos”, resumiu Luciana Lourenço, diretora de Gestão de Pessoas e Performance Social. 

Para consolidar as ações que já existiam e avançar ainda mais, a Ourofino Agrociência criou um Comitê ESG e contratou uma consultoria para avaliar a maturidade da empresa na temática. Para surpresa da própria diretora, a companhia já estava no nível quatro de cinco: “A gente sempre acha que falta muita coisa para fazer e que precisa se esforçar demais para conseguir mobilizar toda a organização na temática ESG. Quando você para efetivamente e analisa, as empresas já estão adotando muitas práticas e é uma questão apenas de ter um olhar mais estratégico”.

Saúde

No Aché Laboratórios Farmacêuticos, o objetivo é conjugar sempre os aspectos de sustentabilidade ao impacto nos negócios, pois tudo está interligado. Eleito pelo segundo ano seguido como líder no ranking de empresas mais inovadoras do setor farmacêutico e de ciências da vida, segundo o anuário Valor Inovação Brasil 2023, o Aché desenvolve sua estratégia conectada ao propósito da empresa, como descreveu Leonardo Martins, gerente de sustentabilidade: “Nosso propósito é levar mais vida para as pessoas onde quer que estejamos. A promoção desse propósito é potencializada por meio de iniciativas de sustentabilidade”.

Para o representante do Aché, é preciso desenvolver práticas que permitam gerar e proteger valor, tanto para a empresa quanto para seus stakeholders, que já têm suas metas ambientais e estão exigindo o mesmo da companhia. Isso implica desdobrar as metas do Aché para seus fornecedores e prestadores de serviço.

“As empresas estão sendo cada vez mais responsabilizadas, não só pelos clientes, mas também legalmente, pelo que elas fazem ou deixam de fazer no contexto da sustentabilidade. Aqui no Brasil isso ainda está engatinhando, mas no resto do mundo já é uma realidade”, alertou Martins, que finalizou:

Leonardo Martins

“Sem meio ambiente, não existe sociedade; sem sociedade, não existe negócio. É por isso que estamos fazendo tanto”.  

De fato, o que está sendo feito pela empresa é expressivo. No campo da governança, o Aché realizou ações como a criação de uma estrutura de governança temática e multidisciplinar para temas materiais (mudanças climáticas, biodiversidade e ecoeficiência, entre outros), além do censo com foco em diversidade, equidade e inclusão, que obteve engajamento de 75% dos colaboradores. Essa estrutura foi responsável pela construção do Olhar ESG e da Agenda 2030 da empresa.

No aspecto social, a empresa desenvolve iniciativas como o Projeto Longevidade e o Programa Cuidados pela Vida, como forma de promover o acesso à saúde aos brasileiros. Já na temática ambiental, destaque para a elaboração do inventário de gases de efeito estufa, estabelecendo o compromisso de reduzir as emissões de carbono, e a certificação nos padrões ISO da unidade do Aché em Guarulhos (SP).

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