REVISTA FACTO
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Jan-Mar 2012 • ANO VI • ISSN 2623-1177
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//Artigo

INSTITUTO VITAL BRASIL - ACIDENTES COM VIÚVA-NEGRA CRESCERAM 165% EM 10 ANOS

Nos últimos 10 anos, 775 acidentes com aranhas viúvas-negras foram registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Segundo Claudio Maurício Vieira, biólogo e coordenador do Setor de Artrópo- dos do Instituto Vital Brazil, esse número está muito abaixo do real, pois é uma aranha pequena e de difícil diagnóstico dos sintomas.

A curva ascendente dos acidentes diagnosticados e notificados ao Sinan, no período entre 2001 e 2010, indica seu comportamento dinâmico no Brasil, e embora os números absolutos pareçam modestos, a conhecida morbidade desses acidentes justifica maior atenção a esse agravo.
A Ouvidoria do Instituto Vital Brazil comprova essa evolução com suas estatísticas. O serviço prestado pelo instituto recebeu ligações sobre aparecimento de aranha de várias espécies em
busca de informações sobre acidentes, identificação e sobre o que fazer em caso de picadas. Em 2009, foram 25 atendimentos acerca desse assunto. Esse número subiu para 34 atendimentos em 2010, e chegou a 45 no último ano.
A viúva-negra pode ser encontrada em todo o país, tanto em áreas rurais quanto urbanas. Costumam aparecer, principalmente, entre a prima- vera e o verão (época especial para os artrópodos, de forma geral). É quando o tempo começa a esquentar, há maior disponibilidade de energia no meio e, por consequência, há mais alimento para esses animais (aranhas se alimentam de insetos).
Dos 775 acidentes notificados, 171 foram em Santa Catarina, seguida de Minas Gerais, com 125 notificações, e São Paulo, com 98. Isso demonstra que mudou a característica dessa espécie, cujos acidentes eram mais notificados por estados litorâneos. “Esse tipo de animal se adapta muito bem a ambientes naturais ou mesmo em locais sob forte ‘perturbação’ do homem. São capazes de se reproduzir em áreas poluídas, construções de concreto e diferentes cultivos agrícolas”, afirma Vieira. O Rio de Janeiro ocupa o 16o lugar no ranking de notificações de acidentes com viúvas-negras. “O estado tem uma característica interessante. A cada três anos ocorre um acidente grave. O último notificado foi em 2009. Segundo as estatísticas, o próximo seria em 2012”, ressalta.
As estatísticas acertaram: em março deste ano, um trabalhador rural de Quissamã (município litorâneo do estado) ficou 10 dias no hospital e, por pouco, esse acidente não teve graves consequências. O acidentado conseguiu capturar a aranha que o picou e, por isso, o seu diagnóstico foi rápido. Ainda assim, o quadro evoluiu com gravidade em um curto espaço de tempo e ele teve risco de morte. O paciente foi transferido para um hospital em Campos, onde recebeu o soro antiaracnídeo, que não era específico para a espécie. Depois de seis dias na Unidade de Tratamento Intensivo, com respiração artificial, apresentou melhora. Retornou a Quissamã, onde ficou no hospital mais alguns dias. Até hoje, recebe acompanhamento para observar a evolução do quadro.
Os sintomas da picada costumam aparecer entre 20 e 60 minutos após o acidente e se caracterizam por sudorese, edemas de cor avermelhada, dor intensa no local da picada e no abdômen, acompanhada de rigidez local, cãimbras, náuseas e vômitos, anorexia, ansiedade, agitação, insônia, dor de cabeça intensa, hipotermia, tremores e contraturas musculares e distúrbios nervosos. “Um indivíduo tratado com o soro específico contra o veneno da viúva-negra tem regressão dos sintomas em aproximadamente 24 horas, ao passo que o tratamento sintomático (com relaxantes musculares, analgésicos e outros) deixa o acidentado, no mínimo, 10 dias em ambiente hospitalar”, esclarece o biólogo.
Hoje, o soro oferecido gratuitamente nos polos de atendimento pelo Ministério da Saúde é o antiracanídeo, que não é específico para picadas de viúvas-negras. Para ter acesso ao soro antilatrodéctico (específico para a espécie), o acidentado deve entrar em contato com o Instituto Vital Brazil, que é o único produtor desse soro no país.
As publicações sobre os acidentes com humanos no Brasil mostram que a necessidade de um soro específico produzido no país é levantada como de grande importância para tratamento dos acidentes em diferentes regiões. Os casos graves eram tratados com soro argentino que o Ministério da Saúde do Brasil importava com frequência irregular e mantinha em regiões onde esses envenenamentos eram notificados. A eficácia do tratamento inespecífico (baseado principalmente em relaxantes musculares) é questionada por ser uma conduta lenta na recuperação dos acidentados, muitas vezes sem resultado terapêutico esperado, com o prolongamento dos períodos de internação e reinternação do acidentado para complementação de atendimento. Os fármacos utilizados no tratamento sintomático em acidentes com viúva-negra objetivam a estabilização, inibição, controle ou reversão dos efeitos indiretos causados pelo veneno.
Diferentes pesquisas afirmam que a soroterapia específica reduz significativamente a permanência do paciente em ambiente hospitalar, pois a remissão dos sintomas do envenenamento, especialmente das manifestações dolorosas, é rápida e o restabelecimento total do acidentado ocorre em poucas horas, sendo essa a principal vantagem terapêutica observada no tratamento.
Em caso de acidente com animais peçonhentos, Vieira explica que o acidentado deve procurar socorro médico imediato. É importante lavar o local da picada com água e sabão, manter o acidentado em repouso, e, se a picada foi no braço ou na perna, as extremidades devem ficar levantadas. “Quem quiser, pode colaborar com o Instituto Vital Brazil com informações sobre a ocorrência desses animais em sua região. Basta ligar para 0800 022 1036 ou mandar e-mail para [email protected]“, informa.
Curiosidade- Um fato que desperta a atenção é seu nome popular: viúva-negra. Isso se deve à fêmea geralmente se alimentar do macho após a cópula. Durante o ato sexual, o macho introduz sua genitália no ducto sexual da fêmea. Após a ejaculação dos espermatozóides, com um movimento brusco, o macho quebra sua genitália dentro do corpo da fêmea para garantir o fechamento da abertura sexual da fêmea, impedindo que outro macho fecunde novamente a mesma fêmea. E como os aracnídeos são providos de sistema circulatório aberto, o macho morre por hemorragia perdendo seu fluxo sanguíneo. Apesar de não matar o parceiro, a reputação de assassina da viúva-negra vem do fato de ela se alimentar dele após o acasalamento. “A fêmea não faz por mal, apenas se aproveita do cadáver do macho para repor a energia gasta na cópula”, explica Vieira.
Prevenção- Para que os acidentes com aranhas ou outros animais peçonhentos não ocorram, Claudio Maurício explica que as pessoas devem manter jardins e quintais limpos, evitando o acúmulo de entulhos nas proximidades das ca- sas. Além disso, evitar folhagens densas (plantas ornamentais, trepadeiras, arbusto, bananeiras e outras) junto a paredes e muros das casas. Outra dica é manter a grama aparada e vedar frestas de portas e janelas.

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